0 Sentimentos não pagam passagem: Uma história nos ombros de Ana

  São 5:55 e eu não queria estar acordada sentindo minha fronha úmida e relembrando que bom, ontem foi só mais uma daquelas noites em que a vida lá fora se cala e tudo aqui dentro de mim resolve fazer barulho. Muito barulho. Era eu, minha cama e minha almofada que escutava meus desabafos, meus gritos abafados pelo medo de que alguém acorde e me pergunte "Tudo bem?", esse tipo de pergunta nunca é bem vinda em situações desse tipo. Não lembro direito quando dormi, mas sei que acordei com os olhos inchados, o corpo doendo devido a mau noite de sono e mesmo assim, eu não chorava mais por fora e parece que minha lágrimas preferiram ficar dentro de mim (talvez seja o frio) e se transformaram em uma pontinha de dor difícil de explicar. É algo que dói láaaa dentro, parece tímido mas é constante, incomoda e qualquer sinalzinho de uma emoção mais forte, BUM! A bomba explode.
  Não gosto de me sentir assim, impotente para resolver situações que me envolvam e quando o assunto é emoção eu não sou inteligente, não mesmo. Eu confesso, chamo, insisto, espero e até hoje não sei porque nada deu certo. Talvez a minha crença de que se o " Boa Noite/Bom dia!" fossem um "Eu amo você" ou todos aqueles "Não sei" fossem "Saudades" e todas as palavras não ditas pelo maldito sentimento denominado "medo" eu estaria mais na paz e as madrugadas não seriam assim tão frias. Mas enfim, voltando ao fato de não ser inteligente... Acordei com esse incômodo torturante e sem aguentar mais em reler aquela conversa de ontem e me lembrar de quanto é fácil se perder no abismo que é pensar e sentir, eu joguei meu celular longe. Espatifado em pequenos pedaços no chão eu o deixei e fui sair para dar uma clareada nas ideias.
  O arrependimento começou a bater do mesmo modo que o celular bateu na parede mas aí eu lembrei que talvez seja melhor eu ficar sem conversar com ele, ou vê-lo, ou ler o que ele escreve. Eu nunca quis ser a dúvida de ninguém.
  Saí de casa levando meu eu físico e todos aqueles sentimentos confusos que mesmo sendo bem pesados, graças a Deus não pagam passagem. Ia pegar outro ônibus mas parei para tomar um sorvete e por talvez uns 0,3s eu o perdi.Culpa do sorvete.Eu e essa minha mania de perder as coisas por motivos bobos. Na minha frente havia uma garota andando lentamente, como se pouco se importasse em perder o ônibus. Fiquei admirada com sua precisão, olhar fixo e li que no seu cordão estava escrito "Ana", palavra hebraica que significa "graciosa" ... E quanta graciosidade Ana foi capaz de exaltar em poucos segundos que fiquei do seu lado. Ela era incrível com seus cabelos longos e suas formas perfeitas... Acho que reparei tanto que a moça se virou pra mim e perguntou "Tudo bem?". A pergunta ecoou na minha cabeça, olhei para seus olhos escuros que penetravam os meus a procura de uma resposta e a pergunta que mais odeio em momentos chatos fez meu coração disparar, a pupila dilatar, as mãos tremerem, as pernas bambearem, a perca de sentidos e BUM! A bomba explodiu.
  Comecei a chorar envolta de soluços e lágrimas que disputavam corrida pelas montanhas das minhas bochechas e Ana me abraçou, como se me conhecesse a muitos anos ou como se soubesse o meu nome. Desabafei enquanto molhava sua blusa amarela e contei tudo que queria, disse cada detalhe, mostrei cada dor e nunca tinha me aberto tanto com ninguém.
  Após um tempo, nos apresentamos e Ana me mostrou sua " Teoria das Caixas". Me ensinou a separar as coisas em caixas   e da importância de organizar o nosso armário emocional. Peguei seu telefone (mas ainda não sei como ligarei), me despedi da garota mais graciosa que já conheci no mundo, prometi lhe dar uma nova blusa amarela e fui embora. Cheguei em casa e peguei uma caixa rosa com detalhes de bolinhas em vermelho e cobri com mais alguns desenhos, dentro dela coloquei paciência, carinho e o meu amor. Estou cuidando das outras caixas e torço fielmente pelo dia em que irei abrí-la sem que a bomba exploda.

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