3 Van, amor,Helena e afins...

 A minha vida não é a mais emocionante, e eu já estou cansada da rotina "casa-escola"e da van que conecta esses lugares.Ela me busca sempre as 6:40.Hoje parecia um dia normal,coloquei meus fones, então entrei, dei bom dia ao motorista, falei meu nome pro monitor, e quando caminhava para meu lugar, vi que nele tinha um papel.Uma folha rosa amassada e dobrada várias vezes.Parecia ter sido esquecida ali, e é claro que a curiosidade humana foi maior do que o ato correto de guardar e procurar o dono. A carta tinha cheiro de avelã, e a letra era bem redondinha, a pessoa parecia ter  uma mão bem pesada, e a folha era decorada com desenhos de corações partidos,e coisas como caveiras, bombas, raios e um monte de coisas que se pode fazer quando está inspirado!

 " Me chamo Helena, e a minha idade não te interessa.Hoje eu vim contar minha história, meu primeiro amor.Eu não gosto dele, é muito clichê, e sempre que me lembro eu tenho um ódio,precedido de amor e ódio de novo, como sempre, tudo termina em ódio.

   Verão de 2012... Uma tragédia acontece na escola: Meu nome na lista de reprovados.Parecia o fim.Ia estudar a tarde,ficar longe dos meus amigos e tudo parecia uma maldição. Mas a vida sempre prepara uma coisa ruim que tenha uns ponto positivos, e isso é só pra te confundir, só pra você nunca saber se está feliz ou não.A notícia boa é que uma amiga minha que tomou bomba no 7° ano ficou na minha sala! Seu nome era Thaís, e foi bom revê-la.Alguém conhecido conforta o coração. Mas... existe uma coisa que conforta ainda mais e que te deixa meio boba: Garotos bonitos.E aquela sala tinha o Gustavo:1,70 de pura beleza,cabelo loiro que voava sempre que o vento batia e um sorriso de dar inveja a Megan Fox.Pensei em duas coisas quando o vi : 

1° -Que gato.Perfeito.

2° - Não tenho chance.

 E assim foi... Eu sentava atras dele, conversávamos um pouco e eu morria de ódio dele porque ele dizia que Nightwish era satânico.Eu tentava agir naturalmente, e colocar na minha cabeça :  Ele é só um amigo. Por um momento eu me convenci disso.Mas parecia inevitável não ficar sem graça quando ele falava.

 Eu chegava mais cedo todos os dias, e ele também.Eu gostava de irritar ele só para admirar sua forma paciente de falar comigo.Eu coloca meus pés na sua mesa, e a conversa era sempre a mesma:

Ele:Tira o pé da minha mesa.

Eu: Não.

  Aí ele tirava.Eu não sei por que, mas achava muito fofo.A gente batia um papo ,eu tentava olhar fixa pra ele,mas meninos bonitos me desconcentram, eu tenho esse problema.

  O Gustavo era um idiota.Levava uma blusa enorme e dizia que era a blusa de mendigo dele.Eu ria e amava quando ele me abraçava com aquele tamanho GG de blusa.Também achava aquilo fofo.

  Nunca fui do tipo que liga pra etiqueta.Sentava no fundo da sala sempre que o recreio acabava.Um dia ele pegou minha mão e começou a tirar um esmalte que tinha sei lá... Umas duas semanas. Foi sendo assim todo dia... Um aperto de mão,um abraço na despedia,um beijo no rosto até no dia que chegou no nível dele puxar minha mão, e a gente dá um abraço daqueles de tumblr.Em que o pé da garota fica em cima do tênis do garoto e o mundo parece ter parado naqueles instante.Não sei porque, mas ele ma fazia sentir nervosa,mas segura perto dele.

  Desde que conheci o Gustavo cresceu um borboletário na minha barriga.Elas sempre viviam agitadas quando ela aparecia.Mas naquele dia elas estavam muito eufóricas , eu sabia que algo ia acontecer....

  Eu ia viajar para tão tão distante.O Gustavo foi me levar no ponto e quando o ônibus estava prestes a chegar ele me deu um abraço e tentou me beijar.O resultado foi só um selinho, por mais que parecia uma boa ideia,eu tinha uma certa vergonha.Não rolou,mas eu fiquei tipo: Que fofo, que meigo, eu quero ele pra mim.

 Na segunda ele disse que sentiu falta de mim.Com toda minha idiotice de 14 anos achei até fofo.

 Naquele dia ele me beijou.De verdade.Foi bem desajeitado porque ele é muito alto e os dentes deram uma "colisão".No início pensei que o problema era comigo, mas no outro dia ele me beijou de novo e era ele mesmo Haha'. A noite eu decidi ser ousada.Pedi ele em namoro, e até hoje não acredito que fiz isso.Ele aceitou e a gente foi feliz.Mas tudo tem um fim. E a minha ruína foi a mudança de escola.Lembro muito bem do dia.Eu escrevi em um papel, entreguei para a Thaís, uma outra amiga minha leu e finalmente o Gu leu. As meninas choravam, todo mundo meio triste.Nós ficamos abraçados o intervalo inteiro, como uma forma de matar a saudade que ia vim pela frente. No final do dia terminamos.Ok, acabou ... "

 A história  combina com a música Wrecking Ball que toca nos meus fones.A van chega na escola e eu sou obrigada a parar.

 Durante os três primeiros horários de aula, a garota que eu não conhecia não saiu da minha cabeça.Helena parecia tão sincera, e da maneira que ela escrevia eu sentia o quanto aquilo ainda doía, e o quando ela estava tentando se fechar.

 O sinal do recreio toca.Eu nem me preocupo em pegar o lanche,mas sim a folha rosa com um desabafo de amor.

 "Não, não acabou.Em outubro voltamos a conversar, era legal... Mas ninguém aceitava a gente junto e o pior aconteceu:Minha mãe descobriu, tirou o meu celular e essas coisas.Na verdade não adiantou.Ele me mandava mensagem de bom dia, boa noite, te amo e eu também.E o melhor era quando ele me ligava e ficávamos conversando baixinho sobre os amigos, a vida e tudo que a gente fazia.Tudo parecia lindo até acabarem os créditos.Ficamos um tempão sem se falar, e podia ter sido assim até hoje.Eu descobri que ele tinha ficado com outra menina, foi uma sensação vazia e eu decidi dar um basta! Agora eu tenho certeza que foi o fim !

 Final de novembro chega a carta mais linda que eu  já li( e deixei guardada com minha melhor amiga).E era dele.Sim, tudo voltou ( e eu vou parar de dar certeza as coisas).Liguei para ele no Natal, no ano novo, e a minha mãe quase percebeu...

 Depois de tanta coisa que aconteceu com a gente, o motivo do verdadeiro ( juro que agora é pra valer) fim foi o tempo.O amor que esfria, a saudade que vai embora. De vez em quando penso em tudo,mas tenho uma certa  raiva de coisas que eu não quero nem escrever!!

Acho que é isso,e agora eu vou sei lá...queimar essa carta. "

  Duas folhas de muito sentimentalismo e eu tinha amado aquilo.Passe a noite, a madrugada inteira pensando na Helena, em como ela estava agora.Pensando no Gustavo e em tudo.Eu queria saber quem é, mas é difícil... A van carrega muitos jovens em vários turnos e em vários lugares!

 Hoje eu tenho prova no turno da tarde,finalmente acordar as 10:00... Mas o problema é que não sei a matéria.Se fosse cair sobre a história da Helena, eu saberia cada detalhe de cada parágrafo, mas matemática não é nada romântico.

 Naquele dia a van me buscou 12:40.Caminhei em direção a minha cadeira mas estava ocupada.Sentei do lado da moça que "roubou" meu lugar,só pra não sair da minha " área de conforto".Ela cheirava avelã e de uma sorridente,como se me conhecesse, ela se virou, estendeu o braço e me disse:

-Prazer,Helena.