1 Crônica do Aeroporto

 

40 anos. Uma recente separação.Dois filhos, uma menina e um menino.Um tempo curto, servido ao trabalho, aos filhos, e menos para mim! Olhos cansados cobertos por óculos de grau forte, cabelos castanhos e lisos jogados no ombro.Altura mediana, e um peso médio, sem tirar nem por.

  Naquela amanhã, meu despertador tocou alto a minha música favorita.Era dia de viajar a negócios.De quinze em quinze dias, cidades diferentes, clientes diferentes, cada um mais chato que o outro.O ramo de administração não é nada fácil ! Na minha mala, roupas, sapatos,  e maquiagens amontoados.Na minha cabeça havia compromissos, meus filhos, e a dor de uma recente separação.É uma pena a nossa cabeça não ser igual a mala, que você enche de coisas, e o espaço simplesmente acaba! Eu ia para o aeroporto  pesada.De malas e de sentimentos.

   Era sempre a mesma coisa.Alegria e tristeza se enfrentam no aeroporto. Pais lamentam o intercâmbio de seus filhos, outros se emocionam ao os ver chegar com fotos, e lembranças dos amigos de viagem! Namorados desesperados, como se fossem morrer sem a companhia.Outros ficavam tão emocionados de ver o namorado, que até largavam a mala no meio do caminho, e o segurança era obrigado a pegar de volta!Turistas, claro! Com suas camisetas floridas, roupas curtas, linguagem embolada, e uma câmera em cada mão, para não perder um único pássaro silvestre que passasse no céu! 

   Sentada esperando o tempo passar, e a mocinha de voz suave chamar para o embarque. De repente chegou um garoto do meu lado, com os olhos um pouco molhados, como se estivesse a ponto e chorar.Uma mala pequena, escrita " G.",e uma roupa amassada, como se estivesse saído as pressas.Cabelos loiros bem cortados, e olhos cinzentos.Era um rapaz bonito, ombros largos.Mas não pude ver o seu sorriso, ele parecia bem triste, como eu. Não teve um minuto que ele não olhou o seu celular.Como se esperasse uma ligação.A cada olhada, seu pé batia mais rápido no chão.Aquilo já estava me incomodando. 

 -Atenção, voo 03, New York, plataforma 7 .

 Era o meu voo. Puxei as malas, e segui em frente.O rapaz veio na minha frente.Enquanto andávamos, seu telefone tocou.Por um minuto vi o seu belo sorriso, mas a tristeza veio assim que ele atendeu:

- Oi mãe.

-Já estou entrando.

-E ela ? - pude ouvir essa frase da mulher no outro lado da linha.

- Preferiu terminar, disse que não podia namorar um cara que vai morar um ano em NY !

-Bem.

-Tchau! Beijos! Obrigado! Te amo mãe !

...

 Tudo estava explicado.Pobre menino, também levava uma decepção na mala.

 Nossa, como eu odeio essa fila de aeroporto, tão grande e tão devagar.Tudo parecia entediante, mas, de repente uma voz feminina surgiu lá de trás.

     -Gabrieeeeeeeel !

     O garoto da minha frente se virou rápido,e procurou desesperado quem gritava seu nome !

Uma moça baixa, de cabelos escuros como a noite, e olhos também cinzentos, veio correndo na sua direção, largando sua blusa de frio, um pé de sapatos, seu celular, e brincos no chão.Ela corria.Ele corria. Um em direção ao outro, a mala jogada no meio da fila. Até que se encontraram.Frente a frente.Nessa hora, senti que dois corações pararam de bater. Os lábio não diziam nada. Mas os olhos demonstravam o tanto que eles se amavam.Ela começou falando baixo:

    -Me desculpa, meu amor. Eu fui uma tola pensando que poderia ser feliz sem você comigo.Eu quero que você saiba, não importa o lugar do mundo em que você esteja, eu vou estar com você.Como dizem, o amor não tem fronteiras.

 Ele segurou sua mão forte.Como se nunca mais fosse soltar. E lhe disse a frase:

  - Tolo, fui eu de pensar que poderia viver sem você em outro lugar do mundo.E... eu já disse que te amo?

O final foi o de sempre.Um beijo. Um abraço forte, e uma viagem para NY cancelada.Já tinha visto algumas cenas assim nos filmes, mas nunca tinha pensado que poderia ser verdade.E que a verdade seria tão emocionante.Sempre fui tão acostumada a tristeza e  naquele dia me deu vontade. Vontade de amar de novo.